21/09/09
Segundo membros do governo dos Estados Unidos e diplomatas europeus, a mensagem inédita ao Irã que o presidente Barack Obama enviou por vídeo na sexta-feira (20/03) foi parte de uma estratégia cujo objetivo é enfatizar um recado positivo para os iranianos no prelúdio da eleição presidencial daquele país, que ocorrerá no próximo verão.
Entre outras medidas que estão sendo avaliadas está um comunicado direto de Obama ao aiatolá Ali Khamenei, o líder supremo do Irã, e o fim da proibição de contatos diretos entre diplomatas menos graduados dos Estados Unidos e seus congêneres iranianos em diversas partes do mundo.
Pelo menos por ora, a estratégia dos Estados Unidos baseia-se em enfatizar a diplomacia, em parte devido ao temor de que uma mensagem mais agressiva e concentrada no programa nuclear do Irã possa ser contraproducente em meio ao calor político da temporada eleitoral iraniana. As autoridades disseram que Obama manterá arquivada durante os próximos meses uma proposta de sanções mais punitivas contra o Irã, algo que foi o principal foco do governo Bush.
Após três décadas de um congelamento das relações entre Estados Unidos e Irã, parece ser significante o fato de Obama ter dirigido os seus comentários não apenas ao povo iraniano, mas também aos líderes daquele país, e de ele ter se referido ao Irã como "a República Islâmica", indicando uma aparente disposição para negociar com o atual governo religioso.
As autoridades iranianas responderam cautelosamente à mensagem de Obama. Membros do governo, que ainda estão fazendo uma revisão estratégica da política para o Irã, dizem que ainda não desistiram de impor sanções mais duras contra Teerã, mas que concluíram que enviar agora uma mensagem positiva é algo que proporciona mais chances de sucesso. Um dos motivos para isso é o fato de parecer improvável que a Rússia apoie sanções mais duras antes que Obama demonstre primeiro que empenhou-se bem mais do que o presidente George W. Bush em negociar com o Irã.
O vídeo de Obama que foi divulgado pela Casa Branca às 12h01 da sexta-feira, com legendas em persa, coincide com o festival iraniano de Nowruz, um feriado de 12 dias que marca o ano novo no Irã.
"Nesta temporada de recomeços, eu gostaria de falar claramente aos líderes iranianos", disse Obama na sua mensagem. "O meu governo está agora comprometido com a diplomacia que aborda uma ampla gama de questões que temos pela frente, e com a busca de laços construtivos entre os Estados Unidos, o Irã e a comunidade internacional. Esse processo não progredirá por meio de ameaças".
O governo israelense também enviou uma mensagem de Ano Novo ao povo iraniano na sexta-feira, embora autoridades norte-americanas e israelenses insistam que os dois gestos não fizeram parte de um plano coordenado. "Sei que notificamos os nossos aliados a respeito da nossa mensagem na noite passada", disse o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs. Mas ele acrescentou que não sabe se Israel também notificou os Estados Unidos com antecedência.
Alguns especialistas afirmam que o fato de a mensagem dos Estados Unidos ter sido enviada no mesmo dia que a de Israel tem o potencial para diluir o efeito da mensagem de Obama, ao vinculá-la a Israel, cujo governo tem sido muito mais hostil em relação ao Irã.
Na sua mensagem, Obama declarou que "os Estados Unidos desejam que a República Islâmica do Irã ocupe o lugar que lhe cabe na comunidade das nações". Segundo os diplomatas, a referência ao Irã como "República Islâmica" e a declaração direta a respeito de não ameaçar Teerã foi o primeiro sinal claro do governo Obama de que não tem como objetivo mudar o governo no Irã, algo que é uma preocupação fundamental para a liderança iraniana.
"O texto foi elaborado com o intuito de demonstrar a aceitação do governo do Irã", afirma Martin S. Indyk, ex-embaixador dos Estados Unidos em Israel e autor do livro "Innocent Abroad: An Intimate Account of American Diplomacy in the Middle East" ("Inocente no Exterior: Um Relato Íntimo da Diplomacia Norte-americana no Oriente Médio").
"A mensagem está repleta de sinceridade e aborda diretamente uma das questões que mais preocupa os iranianos", diz Indyk.
Obama chegou ao ponto de citar o poeta medieval persa Saadi. "Os filhos de Adão são membros uns dos outros, tendo sido criados a partir de uma única essência", disse ele.
No Irã, as autoridades foram cautelosas na sua resposta inicial, afirmando que a mensagem de Obama deve ser seguida de ações concretas no sentido de lidar com questões antigas que foram fontes de atrito, como a derrubada de uma aeronave civil iraniana em 1988. Ali Akbar Javanfekr, um assessor graduado do presidente Mahmoud Ahmadinejad, elogiou a iniciativa de comunicação com os iranianos, mas disse que o Irã deseja mais do que simples palavras.
"Isso não pode ser feito somente por nós, não podemos simplesmente esquecer o que os Estados Unidos fizeram com a nossa nação", declarou Javanfekr. "Ele precisam perceber a orientação errada que adotaram e fazer tentativas sérias para corrigi-la".
Mas Karim Sadjadpour, uma especialista em questões iranianas-americanas da instituição Carnegie Endowment for International Peace, afirma que a mensagem de Obama forçará autoridades iranianas de linha dura - como Ahmadinejad - a tomar uma posição quanto às perspectivas de melhores relações com os Estados Unidos.
"O que essa mensagem faz é colocar os elementos de linha dura em uma posição difícil, porque onde o governo Bush uniu líderes políticos iranianos de linha distinta contra uma ameaça comum, o que Obama está fazendo é acentuar as divisões internas no Irã", afirma Sadjadpour. "Isso faz com que os indivíduos de linha dura deem cada vez mais a impressão de serem um impedimento ao bom relacionamento".
Os diplomatas europeus aplaudiram a medida, mas ficaram perplexos com o fato de o presidente Shimon Peres ter enviado também a sua própria mensagem ao povo iraniano. "Isso é de fato uma vergonha porque o efeito principal deveria ser Obama, e a iniciativa de Peres dilui isso", afirma um diplomata europeu, que, devido às regras diplomáticas usuais, pediu que o seu nome não fosse divulgado.
As autoridades israelenses disseram à Casa Branca que no máximo até o final do ano o Irã terá tudo o que precisa caso decida produzir uma arma nuclear. As autoridades indicaram que Israel agirá unilateralmente contra o Irã se acreditar que a diplomacia de Obama não está surtindo efeito. Não se sabe até que ponto essa ameaça é real.
Israel tem pressionado também o governo Obama para cogitar a aplicação de novas e mais duras sanções contra o Irã. Entre as sanções defendidas pelos israelenses está o corte do fornecimento de gasolina refinada ao Irã - uma sanção que o próprio Obama mencionou como sendo um último recurso, durante a campanha do ano passado - e a inspeção total de todos os navios que deixarem os portos iranianos, para garantir que eles não transportem armas.
Para o governo Obama, o tempo para a aplicação da diplomacia poderá ser curto. O Irã parece ter resolvido vários problemas tecnológicos que o impediam de enriquecer urânio. Atualmente as suas centrífugas parecem estar funcionando com alto grau de eficiência, de acordo com relatórios da Agência Internacional de Energia Atômica. O país já produziu uma quantidade de urânio suficiente para produzir, depois de mais enriquecimento, combustível suficiente para a fabricação de uma bomba atômica.
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