quarta-feira, 9 de junho de 2010

Presidente iraniano diz que sanções devem ser ‘jogadas no lixo’

Ahmadinejad disse que sanções não irão ferir iranianos



O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, disse que as novas sanções aprovadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas contra seu país nesta quarta-feira devem ser “jogadas no lixo”.
“Eu enviei a eles (as potências globais) uma mensagem de que as resoluções aprovadas são como um lenço usado que deve ser jogado na lata de lixo”, disse Ahmadinejad, em visita ao Tadjiquistão, segundo a agência de notícias iraniana Isna.
“Elas (as sanções) não são capazes de ferir os iranianos”, afirmou.
A quarta rodada de sanções contra o Irã foi aprovada nesta quarta-feira com o apoio de 12 dos 15 membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
O Brasil e a Turquia, que são membros rotativos, sem direito a veto, votaram contra as sanções, e o Líbano se absteve.

Reações
Logo após a votação, o embaixador iraniano na ONU, Mohammed Khazaei, disse que a aprovação das sanções era a demonstração de “um sistema internacional tendencioso”.
“Revisar nossas memórias amargas do passado e observar de perto como este Conselho ainda age hoje em dia mostra que ainda estamos lidando com um sistema internacional tendencioso e injusto, que é baseado na hegemonia dos mais poderosos”, disse Khazaei.
O embaixador do Irã na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Ali Asghar Soltanieh, afirmou que apesar das retaliações, o país irá continuar com seu programa de enriquecimento de urânio.
“Não importa quantas resoluções sejam aprovadas, o Irã não irá interromper suas atividades de enriquecimento (de urânio), que estão em completo acordo com seus direitos sob o estatuto da AIEA”, disse o embaixador, em entrevista coletiva.
“Eu lamento que eles (as grandes potências) sejam tão ingênuos, que não saibam lidar com o Irã", afirmou. "Se eles disserem que o Irã deve fazer algo, a resposta será não. Se eles pedirem cooperação, a resposta será: ‘talvez, faremos nosso melhor’. É parte da cultura iraniana”, disse.

Pressão
As sanções buscam pressionar o Irã a interromper seu programa de enriquecimento de urânio, já que parte da comunidade internacional suspeita que o governo iraniano planeje secretamente desenvolver armas atômicas.
O Irã nega essas alegações e afirma que seu programa nuclear tem fins pacíficos. Apesar das três rodadas anteriores de sanções, o governo iraniano tem até agora se negado a interromper o enriquecimento de urânio.
As novas sanções ampliam medidas já em vigor, ao proibir a venda de várias categorias de armamento pesado ao Irã, incluindo helicópteros de ataque e mísseis.
Também fica estabelecido que todos os países inspecionem em seus portos e aeroportos cargas suspeitas de conter itens proibidos com destino ou origem no Irã.
As sanções incluem ainda 40 empresas e um alto funcionário ligado ao programa nuclear à lista de pessoas e companhias iranianas sujeitas a restrições de viagens e congelamento de ativos.

Diplomacia
Esta foi quarta rodada de sanções contra o Irã e a primeira a receber votos contrários no Conselho de Segurança da ONU.
Brasil e Turquia vinham buscando uma solução diplomática para a questão nuclear iraniana e, no mês passado, firmaram um acordo com Teerã, pelo qual o Irã se comprometia a enviar seu urânio com baixo nível de enriquecimento ao território turco e receber em troca material enriquecido o suficiente para uso civil, mas não militar.
No entanto, apenas um dia após o anúncio do acordo, os Estados Unidos circularam a nova proposta de resolução no Conselho de Segurança, afirmando que o pacto firmado em Teerã não era satisfatório e que o Irã não se comprometia a interromper seu programa de enriquecimento de urânio.

Lula vê 'equívoco' e 'birra' em sanções contra o Irã

Para Lula, uma oportunidade histórica foi jogada fora.


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva descreveu com um "equívoco" a decisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas de aprovar, nesta quarta-feira, uma nova rodada de sanções contra o Irã.
Para o presidente, os países que votaram a favor das novas sanções no Conselho de Segurança o fizeram "por birra".
"Em vez de chamarem o Irã para a mesa, eles resolveram, na minha opinião, apenas por birra, manter a sanção. Acho que foi um equívoco", disse.
"Acho que o Conselho de Segurança jogou fora uma oportunidade histórica de negociar tranquilamente o programa nuclear iraniano", acrescentou Lula durante visita a Natal, Rio Grande do Norte.
O Brasil e a Turquia, que têm vagas rotativas no Conselho de Segurança, sem direito a veto, votaram contra as sanções, que têm por objetivo coibir o programa nuclear iraniano.
O Líbano, também integrante rotativo, se absteve de votar. Os outros 12 membros do Conselho votaram a favor.
Lula disse ainda que conversou pela manhã com premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, e que ambos acertaram votar contra as sanções.
"Espero que o companheiro (Mahmoud) Ahmadinejad continue tranquilo", acrescentou.

'Interesses internos'
Apesar das críticas do governo brasileiro, o presidente americano, Barack Obama, defendeu as sanções como forma de pressionar o Irã a cumprir suas obrigações para com a comunidade internacional.
Além de Lula, o chanceler Celso Amorim também criticou duramente a decisão do Conselho. Em audiência na Câmara dos Deputados, o ministro sugeriu que os países votaram de acordo com interesses internos.
"Os países têm que votar de acordo com suas consciências, não porque conseguiram vantagem de vender mais isso ou mais aquilo", disse Amorim.
O ministro criticou o fato de o Conselho de Segurança ter votado as medidas "praticamente sem ter esperado" a avaliação do Grupo de Viena sobre proposta de acordo com Irã, intermediada por Brasil e Turquia.
"Houve uma negociação entre os membros permanentes em que os interesses específicos desses países foram tomados em conta", disse o ministro.

Obama diz que sanções são ‘mensagem inequívoca’ ao Irã

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que a resolução aprovada nesta quarta-feira pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas vai colocar em prática as "mais duras sanções" já impostas ao governo iraniano e envia "uma mensagem inequívoca".
"Hoje o Conselho de Segurança das Nações Unidas votou esmagadoramente a favor de sancionar o Irã por seu contínuo fracasso em cumprir suas obrigações", disse Obama, na Casa Branca, logo após a divulgação do resultado da reunião da ONU.
"Essa resolução irá colocar em prática as mais duras sanções já enfrentadas pelo governo iraniano e envia uma mensagem inequívoca sobre o comprometimento da comunidade internacional em interromper a proliferação de armas nucleares."
A aprovação das sanções, porém, não foi unânime. Brasil e Turquia, que têm vagas rotativas no Conselho de Segurança, sem direito a veto, votaram contra. O Líbano se absteve.

União
Ao comentar o resultado da votação, Obama disse que a resolução teve "forte apoio internacional".
"Ao votar pela resolução nós fomos acompanhados de nações da Ásia, da África, da Europa e da América Latina, incluindo a Rússia e a China", disse o presidente americano.
Essas sanções não fecham a porta para a diplomacia. O Irã continua a ter a oportunidade de seguir por diferentes e melhores caminhos.
Barack Obama
"E essas sanções mostram a visão unificada da comunidade internacional de que uma corrida nuclear no Oriente Médio não é do interesse de ninguém e que as nações devem ser responsabilizadas por desafiar o regime global de não-proliferação", afirmou Obama.
Segundo analistas, o fato de nem todos os países do Conselho de Segurança terem votado a favor das sanções prejudicou a ideia de união que os Estados Unidos desejavam transmitir.
"O fato de o Brasil e a Turquia não apoiarem prejudica o desejo dos Estados Unidos de mostrar que o mundo está unido em torno dessa questão", disse à BBC Brasil o jornalista e pesquisador Douglas Farah, do International Assessment and Strategy Center.

Diplomacia
Ao manifestar seu voto na reunião do Conselho de Segurança, a embaixadora brasileira na ONU, Maria Luiza Ribeiro Viotti, disse que as sanções "vão contra os esforços do Brasil e da Turquia para engajar o Irã em uma solução negociada para o seu programa nuclear".
Entretanto, em seu pronunciamento em Washington, Obama voltou a dizer que as sanções não excluem o caminho da diplomacia.
"Essas sanções não fecham a porta para a diplomacia. O Irã continua a ter a oportunidade de seguir por diferentes e melhores caminhos", disse o presidente.
"Não há nada que eu queira mais do que chegar ao dia em que o governo iraniano cumpra suas obrigações internacionais. Um dia em que essas sanções sejam suspensas, as sanções anteriores sejam suspensas, e o povo iraniano possa finalmente realizar a grandeza da nação iraniana", afirmou.
"Na verdade, essas sanções não são direcionadas ao povo iraniano."
Obama disse ainda que os Estados Unidos vão garantir que as sanções sejam "cumpridas rigorosamente".

Reações
Após a aprovação das sanções, alguns países manifestaram-se a favor da decisão.
A China pediu "que todos os membros da comunidade internacional implementem a resolução em sua totalidade e de boa fé", segundo seu embaixador na ONU, Li Baodong.
Baodong afirmou ainda que as sanções têm como objetivo "trazer o Irã de volta à mesa de negociações".
O Ministério das Relações Exteriores russo emitiu uma nota ressaltando que as medidas "excluem a possibilidade do uso da força". Segundo o comunicado, "nada no texto da resolução daria aval para a adoção de medidas ou ações (...), incluindo o uso de força ou ameaça de seu uso".
A França ressaltou que "a porta do diálogo permanece aberta" e disse esperar "que o Irã finalmente escolha cooperar".
Israel elogiou a resolução do Conselho, mas ressaltou que "está claro que a decisão em si não é o suficiente".

Análise: Novas sanções da ONU não vão deter o Irã

O novo pacote de sanções da ONU contra o Irã dificilmente trará mais resultados que as três primeiras rodadas já impostas. A poucas horas da votação das medidas, nesta quarta-feira, diplomatas ocidentais já diziam que as sanções aprovadas não seriam as últimas.
Ao que tudo indica, muitos outros meses de espera serão necessários para o monitoramento dos próximos passos do Irã, para a elaboração de novos relatórios da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica, órgão da ONU) e a realização de novas negociações a respeito de outras retaliações.
Nesse cenário, pelo menos por enquanto, diplomatas descartam a possibilidade da realização de um ataque a uma instalação nuclear iraniana. Mas admitem que, em algum momento futuro, a busca de uma solução diplomática pode se tornar irrealista.
Nesse novo estágio, restarão duas opções: aceitar o programa nuclear do Irã, que pode estar a poucos passos da construção de uma bomba atômica, ou recorrer à retaliação militar.
Para descontentamento de Grã-Bretanha, Estados Unidos e França, medidas contra o setor de petróleo e gás iraniano ficaram de fora da última rodada de sanções.
Retaliações assim enfrentaram oposição dos dois outros membros do Conselho de Segurança da ONU, China e Rússia. Ambos os países têm interesse no petróleo e gás iraniano, além de não enxergarem o Irã como uma ameaça estratégica.

Petróleo
Apesar de rico em reservas de petróleo, o Irã não têm condições de refinar seus derivados em quantidade suficiente para uso próprio. Por isso, as sanções que mais atingiriam o país – até agora evitadas – visariam tanto o fim das vendas de derivados de petróleo ao país como a proibição de investimentos internacionais na indústria de óleo e gás iraniana.
Por conta disso, agora se espera que o Congresso americano aprove legislação banindo do território americano companhias com investimentos significativos em petróleo e gás no Irã.
O governo britânico também deve pressionar a União Europeia a aprovar medidas que restrinjam investimentos no setor energético do Irã.

Fracasso
O Irã rejeitou as demandas do Conselho de Segurança da ONU com base na alegação de que elas são ilegais. O país continua insistindo que se limita a enriquecer urânio sem finalidade militar.
As sanções falharam até agora por dois motivos. O primeiro deles é que interesses vitais do país não foram atingidos. As novas resoluções têm como objetivo apenas reforçar as tentativas anteriores de impedir o Irã de adquirir tecnologia para a criação de uma bomba nuclear ou para a construção de mísseis balísticos.
As retaliações se limitam a banir o suprimento de armamentos ao país, a apertar restrições a negócios com bancos e alguns indivíduos iranianos, como integrantes da Guarda Revolucionária, e a permitir a inspeção de navios ou aviões suspeitos.
A segunda razão para o fracasso das sanções é o fato de que o governo do país está disposto a absorver o impacto limitado das retaliações em nome de uma causa maior: a continuidade de seu programa nuclear.

Entenda as novas sanções impostas pela ONU ao Irã

O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou uma quarta rodada de sanções contra o Irã devido a seu programa nuclear.

As medidas buscam pressionar o país persa a interromper seu processo de enriquecimento de urânio e comprovar a natureza pacífica de seu programa nuclear.

O Irã insiste que o programa não tem objetivos militares, mas parte da comunidade internacional suspeita que Teerã na verdade esteja buscando desenvolver armas atômicas.

A BBC preparou uma série de perguntas e respostas que ajudam a explicar a questão do programa nuclear iraniano. Para lê-las, acesse: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/06/100608_iran_sanctions_mv.shtml

ONU aprova sanções contra Irã com oposição de Brasil e Turquia

O Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) aprovou nesta quarta-feira uma quarta rodada de sanções contra o Irã para pressionar o país a interromper seu programa nuclear.
O Brasil e a Turquia, que têm vagas rotativas no Conselho de Segurança, sem direito a veto, votaram contra as sanções. O Líbano, também integrante rotativo, se absteve de votar. Os outros 12 membros do Conselho votaram a favor.
A votação, em Nova York, foi atrasada em mais de uma hora por causa da ausência dos embaixadores do Brasil e da Turquia.
Quando a reunião finalmente começou, a embaixadora brasileira na ONU, Maria Luiza Ribeiro Viotti, foi a primeira a falar e anunciou o voto contra ao dizer que o Brasil “não vê as sanções como um instrumento eficaz nesse caso”.
A embaixadora brasileira disse que as sanções “provavelmente levarão ao sofrimento do povo iraniano” e que experiências passadas, “notavelmente o caso do Iraque”, mostram que sanções, ameaças e isolamento podem ter consequências trágicas.

Acordo
Viotti voltou a defender o acordo firmado no mês passado pelo Brasil e pela Turquia com governo iraniano, pelo qual o Irã se comprometia a enviar seu urânio com baixo nível de enriquecimento ao território turco e receber em troca material enriquecido o suficiente para uso civil, mas não militar.
"O Brasil vai votar contra a resolução. Ao fazer isso, estamos honrando os propósitos que nos inspiraram nos esforços que resultaram na declaração de Teerã em 17 de maio", disse.
“A adoção de sanções, nessa conjuntura, vai contra os esforços do Brasil e da Turquia para engajar o Irã em uma solução negociada para o seu programa nuclear”, afirmou Viotti.
O acordo firmado com o Irã tinha como base uma proposta apresentada anteriormente pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) mas rejeitada na ocasião pelo governo iraniano.
No entanto, apenas um dia após o anúncio do acordo, os Estados Unidos circularam a nova proposta de resolução no Conselho de Segurança, afirmando que o pacto firmado em Teerã não era satisfatório e que o Irã não se comprometia a interromper seu programa de enriquecimento de urânio.
A representante brasileira criticou a votação das sanções antes de “sentar e conversar sobre a implementação da declaração de Teerã”.
“O Brasil lamenta profundamente que a Declaração Conjunta não tenha recebido o reconhecimento político que merece nem o tempo necessário para dar resultados”, afirmou.

Estados Unidos
Em sua intervenção, após a votação, a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Susan Rice, referiu-se ao acordo firmado pelo Brasil e pela Turquia.
“A Turquia e o Brasil trabalharam muito para obter avanços”, afirmou. “Os esforços refletem as boas intenções de seus líderes em abordar as necessidades humanitárias do povo iraniano e ao mesmo tempo construir maior confiança internacional sobre a natureza do programa nuclear do Irã.”
Rice afirmou, porém, que o acordo não responde questões e preocupações "fundamentais" sobre o programa nuclear iraniano e que Irã teve diversas oportunidades de comprovar que seu programa de enriquecimento de urânio tem fins pacíficos, mas não o fez.
Os Estados Unidos e seus aliados temem que o Irã esteja planejando secretamente desenvolver armas nucleares. Teerã nega essas alegações e diz que seu programa nuclear tem fins civis.
Rice disse que o objetivo dos Estados Unidos com as sanções é persuadir o Irã a interromper seu programa nuclear e a negociar de maneira construtiva com a comunidade internacional.
Os Estados Unidos afirmam que mantêm dois caminhos em relação ao programa nuclear do Irã, de pressão (com as sanções), mas também de disposição para o diálogo.
No entanto, em seu pronunciamento, a representante do Brasil disse que a decisão de impor novas sanções era uma demonstração de que apenas um desses caminhos está aberto.
“Ao adotar as sanções, este Conselho está na realidade optando por um dos dois caminhos que deveriam correr em paralelo – na nossa opinião, o caminho errado”, disse Viotti.

Sanções
A votação da nova resolução ocorreu depois de cinco meses de discussões entre os membros do Conselho de Segurança e sob forte resistência do Brasil, que tem uma vaga rotativa no órgão.
Os Estados Unidos queriam sanções mais duras, mas a resolução final foi um pouco suavizada por pressão da Rússia e da China, dois dos membros permanentes do Conselho, com direito a veto.
Mesmo assim, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, referiu-se às sanções como as “mais significativas” já impostas ao Irã.
As novas sanções ampliam medidas já em vigor, ao proibir a venda de várias categorias de armamento pesado ao Irã, incluindo helicópteros de ataque e mísseis.
Também fica estabelecido que todos os países inspecionem em seus portos e aeroportos cargas suspeitas de conter itens proibidos com destino ou origem no Irã.
As sanções incluem ainda 40 empresas e um alto funcionário ligado ao programa nuclear à lista de pessoas e companhias iranianas sujeitas a restrições de viagens e congelamento de ativos.
Segundo analistas, o fato de Brasil e Turquia terem votado contra as sanções prejudica a imagem de união em torno do tema que os Estados Unidos gostariam de transmitir.
As três rodadas anteriores de sanções não foram suficientes para convencer o Irã a interromper seu programa de enriquecimento de urânio.

Justiça iraniana é instrumento de repressão, diz Anistia

A organização de defesa dos Direitos Humanos Anistia Internacional acusou o Irã de continuar a usar seu sistema de Justiça como um instrumento letal de repressão.
Em um relatório publicado para marcar o primeiro aniversário das eleições presidenciais, cujo resultado foi questionado e resultou em uma série de protestos e prisões no país, a organização afirma que as autoridades continuam a deter e executar prisioneiros em uma tentativa de evitar novos protestos.
Segundo a AI, há documentação provando que centenas de pessoas continuam presas por sua participação nos protestos de junho de 2009, ou por ter expressado visões dissidentes.
A prisão arbitrária de cidadãos ordinários se tornou um fenômeno diário, afirma a Anistia em seu relatório Do Protesto à Prisão: Irã Um Ano Após a Eleição.
O pleito, no qual foi reeleito o presidente Mahmoud Ahmadinejad, levou aos piores confrontos internos no Irã desde a revolução Islâmica, em 1979.
"Calar a voz"
“O governo iraniano está determinado a calar a voz de todos os dissidentes enquanto, ao mesmo tempo, tenta evitar o escrutínio da comunidade internacional sobre as violações relacionadas aos protestos após as eleições”, afirma o secretário-geral interino da AI, Cláudio Cordone.
Segundo o documento, “advogados, acadêmicos, ex-prisioneiros políticos e integrantes das minorias étnicas e religiosas do Irã também foram pegos na crescente onda de repressão que levou a episódios de tortura e a execução de prisioneiros por motivos políticos”.
A organização afirma ainda que várias pessoas foram presas apenas por ter alguma relação com manifestantes ou grupos envolvidos nos protestos.
Entre elas estaria o estudante Sayed Ziaoddin Nabavi, integrante do Conselho para a Defesa do Direito à Educação, que cumpre pena de dez anos na prisão de Evin.
Segundo a AI, sua prisão parece estar ligada ao fato de que ele tem parentes que fazem parte da Organização Mujahedin do Povo no Irã, um grupo proibido pelo governo que as autoridades responsabilizam por organizar os protestos.
De acordo com a Anistia, cerca de 50 integrantes da religião Baha’i foram presos no Irã desde as eleições e quatro curdos estavam entre cinco prisioneiros políticos executados em maio passado sem a notificação exigida pela lei.
Para a organização, esta foi uma clara advertência a qualquer um que esteja pensando em marcar o primeiro aniversário das eleições com novos protestos.
“O que pedimos é muito simples: queremos a libertação imediata e incondicional de todos os prisioneiros de consciência, e que os outros sejam julgados imediatamente por crimes reconhecidos, sem recurso para a pena de morte, em procedimentos que cumpram os padrões internacionais de um julgamento justo”, afirmou Cordone.
Os presos permanecem dias, semanas e até meses incomunicáveis, afirma a AI, sem que seus parentes consigam localizá-los, ou saber quais são as acusações contra eles.
“O segredo em volta dessas prisões torna mais fácil para os interrogadores recorrer à tortura e outras táticas, que incluem estupro e falsas execuções, para extrair ‘confissões’ forçadas que, mais tarde, são usadas como prova em seus julgamentos”, afirma a Anistia.
O Irã tem uma das maiores taxas de execução do mundo. Até agora, a Anistia já registrou mais de 115 execuções apenas em 2010.